papo+lean #091 - Comportamentos inadequados de funcionários na fazenda: como o gestor deve agir?
Paulo Fernando Machado
Recentemente fui consultado sobre como agir frente a uma situação que ilustro a seguir: “Um dos meus funcionários não está tendo comportamentos ideais e não sei como agir. Ele era uma pessoa muito boa, sempre prestativa, pronta para fazer as tarefas e sugerir formas de melhorá-las, mas de uns tempos para cá mudou seu comportamento. Agora ele está desatento, não vê a hora de terminar o trabalho e ir para casa, sempre de cara amarrada. O que devo fazer? Devo despedi-lo?”
Esta é uma situação muito comum e aparentemente de difícil solução. Por que isto acontece e como agir?
Muitas vezes os gestores dominam assuntos técnicos, relacionados à nutrição, sanidade, qualidade do leite, mas não são capacitados em entender o comportamento das pessoas. Nestas condições, enfrentar essa situação pode gerar estresse na fazenda e causar grande impacto no negócio, se a abordagem escolhida não for adequada. Neste artigo, descrevo a contramedida a ser tomada para mitigar o problema no curto prazo e como evitá-lo no longo prazo.
Antes de tomar qualquer ação ao identificar um empregado com comportamentos não ideais, o gestor precisa diferenciar uma pessoa mal caráter de uma pessoa mal capacitada. Para fazer essa distinção, ele deve observar os seguintes comportamentos: a pessoa gera intriga com os demais funcionários? Fala mal dos outros pelas costas? Adula os superiores? Visa apenas os resultados próprios e joga sujo para consegui-los? Se as respostas para essas perguntas forem positivas, há uma boa chance de se estar lidando com uma pessoa de caráter duvidoso. Imaginando que a empresa não seja condizente com esse tipo de comportamento, a solução é clara: essa pessoa precisa ser desligada do time o quanto antes. Mas, se o funcionário não se enquadra na descrição acima, seu desvio de comportamento pode ser um indicativo de que há alguma falha na capacitação e suporte oferecido a ela, que é resultado do sistema gerencial da fazenda.
Para diagnosticar se a causa do problema está no sistema gerencial, o gestor deve se perguntar: estou junto dos funcionários, me comportando com respeito e gratidão? Perambulo todos os dias, participo das reuniões e facilito o trabalho deles? Os empregados têm claro o que é esperado do trabalho, como realizá-lo e têm suporte para isso? Se as respostas forem negativas, certamente a causa do problema está no sistema gerencial. Lembre-se, as pessoas só terão comportamentos ideais se o ambiente permitir que elas se comportem dessa maneira.
Neste caso, o gestor tem muito trabalho pela frente, a iniciar pela mudança do seu próprio comportamento. Porém, construir um sistema gerencial robusto que leve a comportamentos ideais leva tempo e pode ser que a situação com este funcionário já esteja causando conflito na fazenda. O gestor, então, precisa agir imediatamente para tentar remediar a situação. Para tanto, deve chamar a pessoa em questão para uma conversa franca, ou pode correr o risco de perder este e outros funcionários.
Para que essa conversa seja bem-sucedida, o gestor deve se preparar e seguir alguns passos:
1. Escolher o local
Eleger um local isolado, pode ser o escritório ou qualquer outro local da fazenda que haja privacidade.
2. Se preparar para a conversa
Pensar previamente em como abordar a situação, as colocações e argumentos que pretende utilizar e os fatos concretos que o levaram a essa decisão.
3. Ater-se aos fatos
Não discutir suposições durante a conversa. Colocar de forma clara para o funcionário os comportamentos que a empresa espera dele, os comportamentos que ele teve que estão desalinhados e quais os impactos disso. O gestor deve ser firme, mas falar de maneira respeitosa e controlada.
4. Deixar claro o que se espera e colocar um prazo para a definição do caso
Após esses esclarecimentos, o gestor deve deixar claro qual a mudança de comportamento esperada e colocar um prazo para que ela aconteça.
5. Se colocar à disposição para ajudar e acompanhar
Nesse período, é fundamental que o gestor esteja junto e se coloque à disposição para ajudar o funcionário, com feedback’s diários e fazendo o possível para ajudar a pessoa a se manter no negócio.
Se não houver mudança no comportamento do funcionário dentro deste prazo, o desligamento é o caminho natural. Se houver, ele permanece no time. É importante lembrar que, de certa forma, todas as pessoas sempre estão em estado de provação, independente do cargo. O negócio precisa sobreviver e qualquer um que agir de forma desalinhada, deve ser questionado e acompanhado.
Esta contramedida proposta foi uma forma imediata de mitigar o problema, porém, não garante que ele não volte a ocorrer. É preciso trabalhar para identificar desvios nos comportamentos das pessoas quando eles se iniciam, a fim de evitar novas crises. E, principalmente, trabalhar na construção de um sistema gerencial que permita que elas permaneçam sempre engajadas e tenham os comportamentos ideais, que levam a resultados ideais para a continuidade do negócio e felicidade de todos os envolvidos.